
Era uma noite quente, ela estava sentada à beira de uma rua estreita romana. O gelo do Aperol já meio diluído e a metade restante da pizza um pouco fria.
Teu olhar escaneava os edifícios antigos, as mulheres e homens risonhos andando juntos pelas ruas, desviando de carros e motos e turistas apressados. Uma angústia, sem motivo aparente, tomava conta do teu coração e ela tentava diminuí-la com goles cada vez maiores do Aperol.
Uma brisa leve tocou teu rosto, ela abaixou os olhos do alto do prédio e se perdeu nos dele. Eram de uma cor que ela sabia de cor, mas já não sabia mais defini-la. O olhar dele preso no dela, envolto por algumas gotas de suor que se multiplicavam. Era como se o encontro dos olhares deles tivessem tornado tudo câmera lenta. Ele não se mexia e ela tampouco respirava. Já havia procurado aquele mesmo olhar em tantos cantos, restaurantes, esquinas. Sempre meio esperançosa e, ao mesmo tempo, temerosa.
A testa dele se enrugou em curvas que os dedos dela traçavam sozinhos, ela quase esticou a mão no impulso. Teu peito subia e descia em um ritmo conhecido dos dois, mas a falta de ar não veio acompanhada de juras de amor sussurradas ao pé do ouvido.
Teus lábios entreabiram, prontas para dizer um nome que já estava gravado na garganta, mas que as engrenagens pareciam enferrujadas pela falta de uso daquele som. Ele sorriu um sorriso que ela nunca se permitiu esquecer. Tua boca respondeu em automático, mas sei que meus olhos não acompanharam.
Ela voltou sua atenção para a pizza esquecida e quando ela levantou o olhar, ele havia desaparecido, como um fantasma de um passado que ela guarda com carinho, mas não tinha a menor intenção de retornar.
